sexta-feira, 29 de junho de 2012

Em Busca da Melodia


Sugestão : Deivison  DeAutor

Em busca da melodia é uma reportagem publicada na revista mente e cérebro com o tema central sobre autismo. Aborda sobre a linguagem de pais e familiares com a criança quando recém nascida, o manhês. Escrito por Marie Christine Lanzink – psicanalista e Erika Parlato Oliveira – fonoaudióloga, tiveram por objetivo através de estudos mostrarem que “as reações do bebê à voz da mãe ajuda na identificação precoce de sinais de transtornos de desenvolvimento, como o autismo.”
O manhês é encontrado nas diversas comunidades culturais, sua forma melodiosa é natural entre as mães e espontânea, mas também outras pessoas também pode exercer esta função com o bebê. É causada pelo prolongamento das vogais que torna a voz mais doce e musical. Segunda as autoras, “estudos psicolinguísticos demonstram que recém – nascidos conseguem identificar a língua materna e preferem a voz de sua mãe.” A linguagem materna torna-se diferenciada do adulto pelo ritmo, pois este tipo de sonoridade é mais percebido facilmente pelo bebê. As autoras focam na voz, pois esta é fundamental na relação da criança com sua mãe que leva na constituição do psiquismo, como também o tato e o olhar. Parte daí a necessidade de identificar sinais de risco ou de alerta na criança através da relação com sua mãe, para que os resultados abrem novas possibilidades de intervenção precoce.
As autoras tiveram como material de estudo vídeos caseiros de bebês posteriormente diagnosticados como autistas, onde constataram que desde o inicio do desenvolvimento da criança, esta não tinha um direcionamento com os outros. Além de pesquisas realizadas no ano de 2004, pela psiquiatra franco-brasileira Monica Zibovicius e colaboradores; o grupo de pesquisa da neurologia francesa Hélène Gervais, e outros trabalhos sobre o reconhecimento da face humana. E a pesquisa sobre a prosódia (estudo do ritmo, da entonação e de outros atributos da fala), próprio da Associação PréAut, de prevenção do autismo, na França, onde ambas são co coordenadoras.
Um dos vídeos caseiros acessados eram cenas de um bebê com sua mãe, pai e um tio. No decorrer da filmagem perceberam que o bebê não teve nenhuma reação com os chamados da mãe, que usava um ritmo normal. Já na interação com o tio que se comunicou com prosódias do manhês, a criança depois de muita persistência, correspondeu ao chamado do tio, sorriu e brincou. As pesquisadoras perceberam que as crianças vistas não iniciam espontaneamente o jogo provocado pelo manhês, que o papel do adulto é fundamental para estimular essa atitude no bebê. Que a criança possivelmente com autismo é capaz de compreender o estímulo, mas com mais intensidade e provocação na prosódia do manhês.

O uso interno e constante do manhês, a linguagem que adultos usam para falar com crianças pequenas é uma forma eficiente de tentar atraí-las para o jogo social.”

As autoras concluem que a construção do individuo, “a constituição do eu”, dá-se no momento que a criança nasce e é estimulada pelo prazer e surpresa da prosódia da mãe. Ambos constroem uma interação, onde a mãe estimula e a criança responde com olhares e gestos. Pois isto é necessária a estimulação prosódica e a percepção materna, caso a criança não responda. Enfim, “o contato coma materialidade da prosódia da voz materna propicia a entrada no universo da linguagem e promove o despertar do seu circuito pulsional, a partir do prazer de ser objeto do outro, antecipando as condições para a constituição do eu.”



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Autoras:
Escrito por Marie Christine Lanzink – psicanalista e doutora em psicologia co coordenadora da Associação PreAut (grupo multidisciplinar internacional de estudo sobre autismo) autora do livro A voz da sereia – o autismo e os impasses na constituição do sujeito (Ágalama, 2004);
Erika Parlato Oliveira – fonoaudióloga, mestre em linguística pela Unicamp, doutora em comunicação e semiótica pela PUC-SP e em ciências cognitivas pela École dês Hautes Études em Sciences Sociales (EHESS), Paris, professora da UFMG e co coordenadora nacional da pesquisa PréAut no Brasil. 


Obs: todos os trechos entre (“x”) foram tirados na íntegra dos textos originais das autoras (Lanzink; Oliveira, 2012)
Fonte:
Doenças do cérebro : autismo, volume 6 / [organizadora Glaucia Leal]. – 2 ed. – São Paulo : Duetto Editorial, 2012.  Texto na integra: Em busca da Melodia
Site: WWW.mentecerebro.com.br

















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