Sugestão : Deivison DeAutor
Em busca da melodia é uma reportagem publicada na revista
mente e cérebro com o tema central sobre autismo. Aborda sobre a linguagem de
pais e familiares com a criança quando recém nascida, o manhês. Escrito por Marie Christine Lanzink – psicanalista e Erika
Parlato Oliveira – fonoaudióloga, tiveram por objetivo através de estudos mostrarem
que “as reações do bebê à voz da mãe
ajuda na identificação precoce de sinais de transtornos de desenvolvimento,
como o autismo.”
O manhês é encontrado nas diversas comunidades culturais,
sua forma melodiosa é natural entre as mães e espontânea, mas também outras
pessoas também pode exercer esta função com o bebê. É causada pelo
prolongamento das vogais que torna a voz mais doce e musical. Segunda as
autoras, “estudos psicolinguísticos demonstram que recém – nascidos conseguem
identificar a língua materna e preferem a voz de sua mãe.” A linguagem materna
torna-se diferenciada do adulto pelo ritmo, pois este tipo de sonoridade é mais
percebido facilmente pelo bebê. As autoras focam na voz, pois esta é
fundamental na relação da criança com sua mãe que leva na constituição do
psiquismo, como também o tato e o olhar. Parte
daí a necessidade de identificar sinais de risco ou de alerta na criança
através da relação com sua mãe, para que os resultados abrem novas
possibilidades de intervenção precoce.
As autoras tiveram como material de estudo vídeos caseiros
de bebês posteriormente diagnosticados como autistas, onde constataram que
desde o inicio do desenvolvimento da criança, esta não tinha um direcionamento
com os outros. Além de pesquisas realizadas no ano de 2004, pela psiquiatra
franco-brasileira Monica Zibovicius e colaboradores; o grupo de pesquisa da
neurologia francesa Hélène Gervais, e outros trabalhos sobre o reconhecimento
da face humana. E a pesquisa sobre a prosódia (estudo do ritmo, da entonação e
de outros atributos da fala), próprio da Associação PréAut, de prevenção do
autismo, na França, onde ambas são co coordenadoras.
Um dos vídeos caseiros acessados eram cenas de um bebê com
sua mãe, pai e um tio. No decorrer da filmagem perceberam que o bebê não teve
nenhuma reação com os chamados da mãe, que usava um ritmo normal. Já na
interação com o tio que se comunicou com prosódias do manhês, a criança depois
de muita persistência, correspondeu ao chamado do tio, sorriu e brincou. As
pesquisadoras perceberam que as crianças vistas não iniciam espontaneamente o
jogo provocado pelo manhês, que o papel do adulto é fundamental para estimular
essa atitude no bebê. Que a criança possivelmente com autismo é capaz de
compreender o estímulo, mas com mais intensidade e provocação na prosódia do
manhês.
“O uso interno e constante do manhês, a linguagem que adultos usam para
falar com crianças pequenas é uma forma eficiente de tentar atraí-las para o
jogo social.”
As autoras concluem que a construção do individuo, “a
constituição do eu”, dá-se no momento que a criança nasce e é estimulada pelo
prazer e surpresa da prosódia da mãe. Ambos constroem uma interação, onde a mãe
estimula e a criança responde com olhares e gestos. Pois isto é necessária a
estimulação prosódica e a percepção materna, caso a criança não responda.
Enfim, “o contato coma materialidade da prosódia da voz materna propicia a
entrada no universo da linguagem e promove o despertar do seu circuito
pulsional, a partir do prazer de ser objeto do outro, antecipando as condições
para a constituição do eu.”
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Autoras:
Escrito por Marie Christine Lanzink – psicanalista e doutora
em psicologia co coordenadora da Associação PreAut (grupo multidisciplinar
internacional de estudo sobre autismo) autora do livro A voz da sereia – o
autismo e os impasses na constituição do sujeito (Ágalama, 2004);
Erika Parlato Oliveira – fonoaudióloga, mestre em
linguística pela Unicamp, doutora em comunicação e semiótica pela PUC-SP e em
ciências cognitivas pela École dês Hautes Études em Sciences Sociales (EHESS),
Paris, professora da UFMG e co coordenadora nacional da pesquisa PréAut no
Brasil.
Obs: todos os trechos entre (“x”) foram tirados na íntegra
dos textos originais das autoras (Lanzink; Oliveira, 2012)
Fonte:
Doenças do cérebro : autismo, volume 6 / [organizadora
Glaucia Leal]. – 2 ed. – São Paulo : Duetto Editorial, 2012. Texto na integra: Em busca da Melodia
Site: WWW.mentecerebro.com.br
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